Nome é vapor e som

29/12/2010

“Nome é vapor e som”, diz Fausto para Gretchen no jardim de Marta.

Vapor que nos envolve, que se dissipa, mas que é sempre vapor. Grande problema se os nomes mudam de estado. Grande problema se solidificam e cancelam todo movimento, ou se viram enxurrada que arrasta todo o sentido. Precisamos do sentido, esse cobertor curto com o qual nos viramos em nossa condição de seres que falam.

Os nomes permanecem suspensos como vapor, entre o sólido e o líquido.

Comecei o ano atravessando a doença metafísica com Nietzsche, e terminei com a segunda natureza de Hegel. Começo 2011 com o conatus de Spinoza e a percepção de Merleau-Ponty. De fundo, sempre, a lalíngua de Lacan. Um percurso. Uma meta: ultrapassar a metafísica; prescindir dela. Talvez prescindir da metapsicologia. Uma quimera?

O sentido continua dando mostras de uma tendência à cristalização, que se manifesta como ansiedade: como anseio de controle. Então a lalíngua nos salva: nome é, também, som. É ar deslocado. Moterialité.

Resta deixar os nomes soarem. Fazer o ar se deslocar e esperar a volta deste deslocamento. Nessa hora o sentido parece poder muito pouco na relação com as intensidades. E, mais uma vez, o romantismo se insinua. A tensão permanece, fazendo todo ser evanescente. Nem Apolo, nem Dioniso, mas a tragédia. Foi o próprio Nietzsche quem percebeu o movimento hegeliano no seu Nascimento da Tragédia.

Mas, e quanto ao silêncio da palavra escrita? É de outro jeito que ela nos pega, mas pega. Como é possível esse milagre? Será que, de cara, a escrita pode contar com uma certa nostalgia do som? Uma melancolia que já nos põe sensíveis aos deslocamentos do poeta?

Questões! O bom começo!

5 Respostas to “Nome é vapor e som”

  1. Rafael Daud Says:

    Um cobertor curto! Maravilhosos!

    Quanto à palavra escrita, tem som, claro que tem! Pra isso as exclamações, as vírgulas.

    No messenger, eh outra koisa percebe?

    Valeu ontem, abraço./

  2. Lilian Says:

    E quanto ao silencio?

    • Stelio de Carvalho Neto Says:

      Dia desses uma amiga me disse que estava sem escrever uns tempos, porque precisava de silêncio. Não sabia que é tão difícil pensar o silêncio. Na música, o silêncio é escrito. Tem símbolo para a pausa. Sendo assim, silêncio é música; silêncio é som. Sound of silence. Estamos em silêncio? Posso imaginar a sua voz quando leio sua pergunta, mas não tenho a sensação de ouvi-la. Meu corpo não percebe sua voz enquanto leio. Ou percebe?

  3. Claudia Says:

    Mas já?? Posso rir por escrito? 😉


Deixe um comentário